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Observe o boneco palito acima. Quem é essa pessoa?
Você provavelmente pensou que era um homem branco. Afinal, esse é o ser humano normativoem nossa cultura.
Para que o boneco palito representasse outro tipo de pessoa (esse outro que só pode existir em oposição a um normal normativo), características adicionais teriam que ser mostradas: asiático, olho puxado; mulher, saia, velho, bengala; negro, um afro; índio, cocar, etc.
Na falta desses marcadores de alteridade, ou seja, de diferença, o boneco palito é naturalmente, automaticamente percebido como representando o ser humano normativo.
Assim como, ao ler um livro, achamos que todos os personagens são brancos, a não ser que sejam explicitamente descritos como não-brancos. Via de regra, o personagem só vai não ser branco se houver uma razão específica no enredo para ele não ser branco. Ou se, como no exemplo que dei acima, ele desempenhe uma função tipicamente subalterna.
Escrevo e ensino sobre raça e literatura há muitos anos. Tenho experiência: sei que, nesse exato momento, muitos leitores estão começando a se sentir atacados e defensivos. Entenderam que considerar a Marge Simpson branca é um tipo de racismo e, como sempre pensaram nela assim, estão achando que eu os chamei de racistas. Em suas mentes, já estão se armando contra o texto e justificando suas posições.
Resista a esses pensamentos, amigo leitor. Nada pode ser mais narcisista e egocêntrico do que achar que tudo é sempre com você. Eu sei que você não é assim: nem racista, nem narciso. Então, seja forte. Eu não estou te acusando de nada. Eu também sempre vi os Simpsons como brancos.Eu, você e todo mundo.
Antes de qualquer coisa, peço que reserve-se ao tempo de ler essa série de artigos.
http://papodehomem.com.br/racismo-e-normalidade-1/
http://papodehomem.com.br/racismo-e-normalidade-2/
http://papodehomem.com.br/vamos-nos-livrar-da-normalidade-racismo-e-normalidade-parte-3/