Houve um tempo em que as mulheres não eram aceitas no exército. Neste tempo, somente os homens poderiam batalhar pela honra de seu reino. Tidas como frágeis e donas de casas, as mulheres eram desvalorizadas sem se questionar. Mas, assim como o inverno não dura para sempre, as mulheres se rebelaram com a chegada da primavera.
A estação das flores sempre foi um tempo de paz, época de acasalamentos, festividades e mudanças no cotidiano da população. Mas certas investidas Orcs em Venore deixaram toda a população do lado oeste do continente em alerta e os melhores soldados partiram em apoio.
O que aparentava uma simples campanha contra Orcs fedorentos, tornou-se uma grande armadilha, encurralados, os soldados não podiam voltar presos entre montanhas da região, temiam por algo pior quando os Orcs não os atacaram.
Mulheres a cantarolar, pássaros a acompanhar, dia claro, poucas nuvens no céu, mas como sinal mal agouro o tempo fechou e uma terrível tempestade assolou os reinos. Do horizonte surgiram eles, numerosos, grotescos e famintos por carne humana, o exército Orc marchava e o exército não estava lá para combater o mau que semeava a terra.
Carniceiros, assassinos cruéis, marginais, roubavam e destruíam tudo, os Orcs não perdoavam nem as crianças, os poucos soldados que ali estavam não conseguiam conter o exército das criaturas. Os reinos precisavam de um herói, as pessoas necessitavam de um salvador, suas vidas dependiam de forte guerreiro, então, eis que surge no ar, viajando com o vento e tão pavoroso quanto um trovão, o grito de guerra, na voz de uma mulher.
Lá estava ela, do alto da colina, trajando a Armadura Dourada e com o lendário Martelo do Trovão em suas mãos. A condessa de Femor Hills, outrora escondida por trás da burguesia se mostrava onipotente perante os Orcs que sucumbiram ao seu poder e maestria em combate.
Pouco tempo depois, o céu voltou a brilhar com a tempestade que se fez passar, a paz voltou a reinar, mas a condessa de Femor Hills teve que pagar, de seu marido havia roubado, a armadura e o martelo, sem chances de se explicar, na fogueira chorou a se queimar.
Durante décadas os reinos pagaram pela covardia com a condessa, tempos secos e produtividade assolaram as plantações, pescas e caças se tornaram em vão. Décadas as mulheres do reino passaram caladas, porém, certo dia, agricultoras encontraram o diário da condessa, jogado no meio do campo trigo, onde estava escrito:
—Talvez nunca descubram, mas hoje impedi a invasão dos Goblins, pouco depois de impedir o ataque dos Cyclopes. Creio que finalmente a praga de Rotworms está controlada, agora só me resta descansar. Espero que um dia os homens entendam que as mulheres também são capazes de lutar.
O tempo passou, as mulheres ganharam seus direitos e certos acontecimentos da história foram esquecidos. Mas hoje em dia, em noites de lua cheia, ainda pode-se encontrar a condessa de Femor Hills, vagando pelo cemitério, seja para homens enfrentar, ou para mulheres ensinar.